segunda-feira, 30 de março de 2009

Sem (Versão Última)


Eu era sem forma,

Eu me deformei

Não possuía repertório

Eu o roubei



Uma criança problemática

Naturalmente cáustica

A carta mais baixa

Do baralho dos rotos



Tão sem talento, à mercê dos tolos

Sempre inoportuno

Um caminho sem rumo



Eu ainda sou

A cicatriz que incomoda

Na contramão da moda

Apedrejando janelas



Apagando as velas

Destinadas aos mortos

Nas guerras do tédio

Do amor e do ócio



Irracional demais, incapaz de falar

Sempre contuso

Impossível mudar



Eu não tinha deus

Hoje não tenho nada

Abominado entre os meus

Sem roteiro a seguir



Pronto para cair

Em busca de uma resposta

Ignorado, iletrado

Atirado ao anonimato



Desarmado, sem forças por ora

Eu estou aqui

Estou indo embora



Eu era sem voz

Continuo um pouco mudo

Faminto e atroz

Digerido pelo mundo



Sem qualquer proteção

Ele ainda é

Um discurso de indignação

Sem saber o que dizer



Órfão dos órfãos, rebento sem nome

Eu degolei minha infância

Sou a infâmia dos carrascos



Muito sujo, envolto em trapos

Agora sem roupas

Nos esgotos banhado

Tão perturbado, digno de pena



Com uma pena escrevo

As palavras que furtei

Eu era um aleijado

Ele cortou nossos braços



Extremamente desprezível, diabólico

Ateando fogo no inferno

Invisível aos nossos olhos



Eu era destrutivo

Não há mais o que destruir

Sem luz, eu quebrei suas lâmpadas

Sem chances, ele roubou nossa esperança



Tão fraco, repulsivo

Sempre sem nada

Ele deveria tombar

Antes da primeira palavra



Eu era sem chão, eu abri minha cova

Uma pútrida rosa

Nesta alcova germinou



Em cativeiro, ele não nos cativou

Eu era sem vida

Hoje eu posso morrer, enfim

Tão sem começo



Mas ainda sem fim



No leito de morte

“— Meus amigos, não sei como agradecê-los por estarem todos presentes nesses meus últimos momentos de vida...”

As pessoas ali reunidas murmuram palavras de encorajamento, mas ele as interrompe emocionado.

“— Por favor, vocês sabem que é verdade; estou prestes a passar para a Eternidade: agradeço seus esforços no sentido de me animar, mas já estou confortado com suas presenças. Como em todos esses anos, vocês estão por perto para apartar minha solidão, amparar minha fraqueza, compartilhar minha alegria e me lembrar de como sou afortunado por tê-los como meus verdadeiros e queridos amigos! Vocês fizeram com que minha vida valesse a pena; morro feliz por saber que não morro sozinho...”

Então, num derradeiro esforço, ele aciona o botão do controle remoto escondido sob as cobertas.

E a casa explode, matando todos.


Eis aí. Feito!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Poesia de Baixo-Ventre

Tu – você

És parte agora

Do degradante cenário

Oculto atrás das cortinas do teu palácio



Nua – pelada

Maravilhada pelo furor

Que domina teus tenros dezessete anos



Deflorada – fodida

No intelecto e na carne

Dia após dia, minha deusa

Ídolo da minha heresia



Alva – pálida

Agarrada ao lençol

De pernas abertas, unha entre as pernas



Vislumbrada – viciada

Diante do orgasmo

Que teu corpo preenche

E num espasmo delirante tua alma desarma



Encanto – tesão

Escrivão da história

Morta em tua boca na solidão das madrugadas



Dissimulada – traíra

Mãe da mentira, vadia

És um simulacro indefectível

Lacerando egos, devorando poesia



Reservada – exilada

Em tua pele de ninfa suicida

Prostitui-te ao gozo sádico em tua monofobia



Apaixonada – puta

Suprema arquiteta venal

Do amor bélico, que fere

Do amor fálico, que cura



Do amor que não mais te cai bem

Do amor que faz impuras

As palavras do próprio amor

Este amor que não mais nos convém

quinta-feira, 19 de março de 2009

Ode à Podridão

Deixe que o fedor o envolva, o agarre. Sinto o cheiro que agora faz parte de você. Toque a carne flácida, a madeira porosa, a pedra esmigalhada; sinta a água estagnada, o ar viciado, o luz mortiça, a escuridão mofenta.

Por aqui passou a Morte, mas é a Vida que está agora na ribalta.

Este é o palco do Tempo, destruidor de mundos; o que é agora devorado servirá a um propósito depois. Aqui não é um cemitério, é uma maternidade; do que aqui jaz brotarão os germes de Vida nova. Não tenha medo: foi daqui que você veio, é para cá que voltará, para partir outra vez. Você está em casa.

A Podridão lhe dá boas-vindas.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Horror Vacui

Hoje a luz acabou

E ele se deparou

Com o medo de não brilhar

Uma vez na vida

De não piscar

Não salvar

Ao menos uma boa lembrança

Um vômito de esperança

É preciso parar

Para pensar e rever

Os atos e os fatos

Que ainda nos fazem temer



Esse horror vacui

Preenchendo o vazio

Incapaz de satisfazer o verme vil

Que habita o centro do mundo

E um pensamento

Imundo

Já se formou

Em um mergulho profundo

Na maré de carne

Devassa

Da putrefata massa

Que proclama em desgraça




Você não pode

Você não consegue

Ser mais do que um bode

Expiatório do caralho

Um fracasso

Inominável

Um pedaço, um retalho

Seja o que for será instável

Ferido e banido

Do único refúgio remanescente

O combalido ventre

Forçado ao delito

De expurgar outro maldito



Nascido no calendário errado

Entre lágrimas e sangue

Fadado ao fracasso

Nunca houve uma chance

Mas para quem nasce em gritos

Faminto, aflito

Enrugado e feio

Alimentado por um seio

Cansado e arquejante

Não existe perda ou dano

Do detrito ambulante

Ao flâneur mais profano



Absolutamente obsoleto

Este cão deformado

Ignorado no começo

Membro proletário

Decepado

Em um surto literário

Arcano

Perdido em um palimpsesto

Imaginário, urbano

Violador da Elite Esclarecida

Cidadão Y, eis aqui

À premissa de uma vida fodida



sexta-feira, 6 de março de 2009

40 Coisas Randômicas

01 - Eu não queria nascer.
02 - Eu passei duas semanas a mais na barriga da minha mãe antes de nascer, o que prova que eu não queria nascer.
03 - Ao nascer, me enrosquei no cordão umbilical, o que prova indubitavelmente que eu realmente não queria nascer.
04 - Eu sinto mais prazer em pensar do que fazer.
05 - Eu sou bipolar.
06 - Tenho o sonho de me suicidar num futuro distante.
07 - Sou militante do movimento de Legalização da Maconha.
08 - Parei de beber depois que comecei a fumar maconha.
09 - Mas não parei com o cigarro.
10 - Recentemente eu parei de fumar maconha.
11 - E não voltei a beber.
12 - Mas continuo fumando cigarro.
13 - Agora eu tô cheio de seda lá em casa.
14 - Tracei planos e teorias mirabolantes essa semana.
15 - Mas o ilmo. [CENSURADO POR MOTIVOS PESSOAIS] quer me convencer a ser professor.
16 - 16 é o meu número da chamada na escola.
17 - 17 é o meu número da sorte.
18 - Esse já é o décimo colégio diferente em que eu estudo.
19 - Eu não acredito em sorte.
20 - Eu acredito em Caos.
21 - Eu curto esoterismo, mas não tenho paciência pra aprofundar.
22 - Mentira, na verdade eu tenho medo de assombrações.
23 - Eu curto Budismo, mas não tenho paciência pra me aprofundar.
24- Mentira, na verdade eu gosto de comer carne, falar palavrão e ter raiva das pessoas.
25 - Eu tenho paranóia com números.
26 - Sou mais sensível do que pareço.
27 - Eu sou solipsista.
28 - Eu sou agnóstico.
29 - Eu sou pandeísta.
30 - Eu acredito na Nova Era.
31 - Pretendo gravar meu nome na História da Humanidade.
32 - Estou escrevendo um livro numa velocidade extraordinarimaente lenta, mas estou.
33 - Eu sou celibatário.
34 - Deixei de ser INFP, e agora sou INTP, o que me deixou muito satisfeito. (Eu nunca fico feliz)
35 - Eu sonho com um mundo onde todas as pessoas sejam livres e amem-se umas às outras.
36 - Eu odeio a raça humana.
37 - A maior parte dos meus amigos está na internet.
38 - Eu não falo com meu pai, apesar de ele morar comigo.
39 - Eu já [CENSURADO POR MOTIVOS DE SEGURANÇA] quatro mulheres até agora.
40 - Bem, acho que já falei demais...