terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Koan espontâneo
- Eu sou solipsista. Minha mente é o centro do Universo.
- E o centro está em toda parte e a periferia em parte alguma?
- Mais do que isso! Eu diria que a periferia do universo está sempre na região em volta do ponto onde a mente é capaz de se concentrar. Assim se dá com toda a realidade: tudo aquilo que está a margem de nossos interesses se revela apenas como uma mancha turva.
- Entendo.
- Mas o que achou da minha deifnição? É o bastante?
- Pra mim ou pra você?
- Pra mim é.
- Então é o bastante.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
O Terceiro Dia
E eu desço os meus
Antíteses condenadas
A um mesmo fim
Manchas não se lavam
Feridas anestesiadas
Não são esquecidas
Afogadas em rancor
O corpo moribundo
Daquele que um dia foi
Hoje está perdido
Numa pilha de lembranças
Hoje a sombra
Não procura a luz
Pois ela sabe que o sol
É o mais solitário de todos
A guilhotina de ponteiros
O chicotear das horas
Entorpecer, atormentar
Enfraquecer, suportar
Ceder, esquecer, entregar
No raiar do terceiro dia
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Com Batom Vermelho-Sangue
Minha poesia é pura,
Nítida e previsível
Comedida e educada
Mas só até o primeiro verso
Depois cresce, ganha corpo
Sai pra vida e perde o cabaço
Leva porrada do mundo
E aprende como funciona
Vira poesia de rua,
Poesia marginal
De bêbado, drogado e puto
Poesia escrita no asfalto
Com óleo de motor
Escrita no espelho
Com batom vermelho-sangue
Passa a ser poesia descontrolada
De todos e de ninguém
Abandonada num guardanapo
Debaixo do copo de gim
Poesia entalhada à navalha
Na mesa no fundo do bar
Cercada de velhos nazistas
De colisões e fumaça
Porres de pinga e carros em chamas
Poesia de estuprador arrependido
De bailarina aleijada
Poesia em fim de carreira
Já meio arregaçada
Poesia prostituída
Filha dos esgotos de Curitiba
Iluminada pelos semáforos
E postes com furo de bala
Poesia minha é farpada
Feita pra ler e jogar fora
Poesia das três da manhã
Pra queimar quando amanhecer