domingo, 25 de maio de 2008

Monologando

Eu costumo, desde de tenra infância, falar sozinho; isso pode parecer aos que ocasionalmente me observam algo impróprio, senão triste (pois, em sua ordem de valores, o humano vem depois do conveniente). Não obstante, minha experiência demonstra, dadas as possibilidades de conversação normalmente disponíveis na minha vizinhança imediata, que conversar comigo mesmo é a maneira mais eficaz de manter um diálogo interessante e sobretudo proveitoso. Tal como eu começo a fazer aqui; avante, pois!

Sendo o feliz (ou infeliz, conforme as circunstâncias dadas) possuidor de uma mente hiperativa, sinto a constante necessidade de falar a respeito das variadas idéias que me ocorrem, sejam elas dirigidas a qual ou tal tema; assim surgem minhas primeiras dificuldades de comunicação com meus semelhantes: tendo eles seus próprios pensamentos e preocupações com que lidar e sendo esses, via de regra, diferentes de minhas incessantes locubrações, resulta de dificilmente surgir daí algo remotamente parecido com um diálogo. Ao contrário: o que costuma acontecer é o afastamento de meus intentados interlocutores (deles somente, visto que eu tenho o costume [injusticável e irritante, admito] de perseguí-los enquanto tento provocar seu interesse no que digo).

Que não se pense porém que eu seja um monomaníaco egoísta, incapaz de se interessar pelo que os outros têm a dizer, não é o caso; sou um bom ouvinte por índole, um psicólogo e antropólogo por amor à natureza humana, que o digam os meus amigos de longa data (não me venham desmentir agora, malditos!).

O que costumeiramente acontece é que, tendo eu interesses um tanto abstratos e aparentemente divorciados da realidade imediata (tanto de meus semelhantes quanto minha, diga-se), a troca de idéias resulta um tanto difícil, quando não impossível. Essa minha tendência à abstração me leva a formular conceitos, de preferência a comentar fatos; e me parece que a maioria dos meus interlocutores (se por índole ou por formação não saberia dizer) prefere se ater aos fatos; não estou querendo dizer que sou a única pessoa dotada de reflexão no mundo. Apenas tenho a impressão, ilusória certamente, de que meu modo de pensar caminha um passo adiante dos da maioria.

(...)

Um momento! Por que tantas justificativas? Eu simplesmente penso demais para o padrão admitido e ponto final. Minha mente não comporta em si tais pensamentos e eles extravasam por onde podem. E durma-se com um barulho desses!

Ponto final?

Um comentário:

ex-amnésico disse...

Essa foi a mais bem acabada demonstração de prepotência intelectual que eu jamais produzi...

E estava completamente bêbado.

Estou evoluindo, afinal!