sábado, 31 de maio de 2008

.Manual Prático Para 16 Versos

Insira aqui um verso introdutório

Que será provavelmente o único

De real valor e significado

Junte algumas palavras

De modo a formar uma frase

Com sentido obscuro

E possivelmente subversivo

Despeje neste verso

Uma breve declaração

Para alguém que nunca a lerá

Pense em alguma canção popular

Da década passada

E então finalize o verso

Com qualquer rima barata

Escreva exaltadamente nestas linhas

Sobre um amor perdido

E as mágoas eternas em sua alma

Descreva também sua posição

De inferioridade diante do mundo

Expondo sua imperfeição interior

E necessidade de afeto

Fale sobre si mesmo gloriosamente

Na terceira pessoa do plural

Procurando dissimular sua insegurança

Declame agora sua amargura

Para com todos aqueles

Que são melhores que você

E seu desejo de ser outra pessoa

Escreva sobre um terrível ser

De características bizarras

Que irá chacinar a todos

Nas próximas linhas é preciso

Que haja uma grande prolixidade

Enquanto você ouve músicas

Potencialmente inspiradoras

Discurse sobre a morte e a arte

Aproveitando para falar sobre flores

E uma dose moderada de autoflagelo

Derrame palavras soltas

De significado pouco conhecido

Que você descobriu acidentalmente

E ainda não teve chance de usá-las

Tente apresentar uma falsa noção

De criatividade e inovação

Criando um parágrafo de cinco linhas

Imaginando que a desestruturação

Será reconhecida como genialidade

Diga que você arde como o sol

E use uma metáfora simplória

Sobre fogo e redenção

E a insatisfação de ser diferente

Neste verso discorra sobre sangue

A falta de sentido da vida

E como você odeia convenções

Aqui copie um trecho

Levemente adulterado

De um livro famoso

Escrito no século XIX

Fale sobre janelas e tristeza

Sobre o canto de um animal qualquer

E suas cicatrizes emocionais

Escreva a respeito de sua exclusão social

Perturbação mental

E fracasso sentimental

Fingindo que a rima é apenas acidental

Narre as angústias de um ser indefinido

Esperando que daqui muitos anos percebam

Que o verso falava sobre você mesmo

Se faz necessária nesta parte

A inclusão de frases desconexas

Que possam lhe dar a esperança

De um dia ser considerado brilhante

Discurse sobre olhos e sonhos não realizados

Faça uma pergunta sobre o coelho branco

E diga como está cansado de tudo

Registre aqui um verso mórbido

Insinuando seu possível suicídio

Afirmando sua vasta desilusão

Com o rumo da humanidade

Cite alguns nomes de grandes artistas

Poetas e pintores vendidos em comerciais

Finja saber de quem está falando

Conclua seu poema repetindo os versos iniciais

Desesperadamente se esforçando para crer

Que você é apenas um escritor fora de seu tempo

E não um fracassado sem talento algum

Agora insira reticências...

Um comentário:

ex-amnésico disse...

Revelado o truque, só sendo muito cara-de-pau para continuar apresentando-o!

Como no meu caso, diga-se.