Sinto-me vazio como um peixe limpo
E o mundo continua rodando em seu vórtice implacável
Os prédios se erguem na cena como túmulos guardando corpos inertes
O céu deixa de ser vermelho para tornar-se cinza por uma noite
O galopar contundente dos que já se foram e retornam
Alguém toma a atenção para si e rege ordens, desenha letras, assusta pessoas
Em um lugar sujo e abafado uma garota chora a cada vinte e quatro horas
Seu amigo invisível pede que ela se deite, não chore, feche os olhos
Em outro lugar algo se quebra e explode em pedaços desfeitos
O que era perfeito pode tornar-se irreparável
Sinto-me perdido como um cadáver flutuante
Aos poucos a verdade se torna distante e sua mão faz movimentos involuntários
Um menino se encanta com o brinquedo na vitrine em um canto da cidade
Um motorista condenado atropela o garoto distraído
As celas batem contra o couro anunciando a chegada do fim
Dentro de um quarto combalido uma mãe morre em lençóis sujos
Seu bebê se afoga dentro da banheira em gritos leves e úmidos
Ratos rastejam sob roupas, entre peles, esfregando-se, cobrindo, infectando
Vidas são arrebatadas e corrompidas
A manhã eleva-se no céu, substituindo o cinza por vermelho
Sinto-me apagado como uma folha queimada
Corpos sujos se arrastam por cima das camas
Memórias desgastadas são disseminadas e reencontradas
Pessoas enfileiradas são como lápides de si próprias
A festa fúnebre perde-se no eco das palavras
Aquela garota colhe estrelas com as mãos enquanto desaparecem entre as nuvens
As avenidas são corredores onde seres mudos fazem uma travessia
O amor é uma faca que deve ser segurada pela lâmina
Todos os renegados vêm para recolher seus pertences
Tudo o que já foi está voltando agora
2 comentários:
It's very sad and deep...
Bravo!
Sua presença no meu blog é sempre bem-vinda. Estarei por aqui também, pode ter certeza.
Abraço
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