terça-feira, 4 de março de 2008

Portulan

Siga-me pela estrada do transe e atravesse comigo o véu de Parroket em busca da biblioteca de Akasha; caminhe ao meu lado pelo reino de Hypnos e cruzemos juntos o Portão de Chifre, demandando os sonhos que não são sonhos.

Você não precisa de mim para chegar até lá: como todos os seres vivos, você é signatário do Antigo Pacto e tem livre acesso a essas regiões; de fato, você as visita todas as noites. Mas os campos além de Véu são instáveis e enganosos, enquanto que a entrada às terras de Morpheus se dá, mormente, pelo Portão de Marfim das fantasmagorias sem sentido ou importância dos sonos comuns. É então vantajoso ter um guia experimentado nas viagens pelo Não-Real; sonhadores, místicos e poetas são visitantes frequentes dessas terras, e seguindo seus rastros você pode ou não alcançá-las, dependendo de sua índole e marca de nascimento. Eu, que na infância fui um iniciado anagnóstico, ainda posso lhe ensinar os descaminhos, pois não há um meio único de se alcançar o objetivo, nessas regiões. Posso lhe dizer como simpatizar com a biblioteca e lhe indicar o Portão certo a atravessar; mais importante ainda: posso provar-lhe que o Tigre que ronda por ali (como ronda o Universo todo) não lhe pode fazer mal algum. Seu nome é Medo e, por mais que ruja e morda, só pode ferir a quem lhe dá esse poder. Confie no guia.

O que não significa que não haja perigos na viagem. Quem atravessa os campos de Além-Mundo sob o manto do inconsciente passa invisível a seus habitantes. Já quem os cruza desperto percebe muito mais, mas também é percebido: alguns destes habitantes são inofensivos ou, pelo menos, indiferentes; outros não, podem ligar-se ao viajante e atormentá-lo pelo resto de seus dias; é preciso, pois, cautela e discernimento para evitá-los. Quanto aos guardas das passagens, esses não se pode evitar: aqui o conhecimento é crucial, conhecimento e poder, para obrigá-los a abrir caminho ou matá-los, se necessário. Esse não é, decerto, empreendimento para curiosos.

Há perigos, pois. Por que arrostá-los?

O que o mundo das pessoas chama de Real é apenas parte da Existência total; há uma diversidade de domínios no Universo, aos quais raramente nossa espécie tem acesso; supõe-se mesmo que haja áreas que jamais conheceram a presença humana (e para além do mundo, para além dos todos os mundos, inícios e finais, está o Chaos primevo, a Fonte de todos os Tempos, Espaços, Forças e Entidades). E há espíritos errantes, cuja natureza é buscar o que está além deles, para bem ou para mal.

Isto não é um convite: é uma pista e uma senha, um sinal de reconhecimento a ser usado entre os exploradores no limiar dessas regiões, caso um guia confiável seja desejado e desejável.

Companhia, nos tempos que correm, é bem-vinda.

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