terça-feira, 3 de junho de 2008

Religião?

Uma das coisas que eu mais costumo pensar antes de dormir, enquanto tomo banho e quando eu tô dentro de um ônibus cheio de pedreiros, é na existência de um deus que tudo criou, que pune aqueles que pecam, que cobra dízimos de seus seguidores, que honra os de cabelo liso com a graça do seu céu. Seriam verdadeiras as histórias dogmáticas que originaram as teses mais controversas que conhecemos?


Na verdade eu não sou um católico exemplar, mas tenho que admitir que fui uma criança católica até demais. Costumava fazer bondades, comer os meus legumes, fazer meus deveres de casa a troco de conquistar meu lugar no céu. Não sei exatamente como aconteceu, mas do nada percebi que a própria igreja era cheia de contradições. Obviamente, como toda criança, procurava respostas às minhas perguntas mais estranhas em dois lugares: As caixas de sucrilhos (sempre tinha algo construtivo) e a minha mãe (sempre tinha algo chocante).


“Mãe, por que Deus, por Moisés, nos mandou os dez mandamentos se na bíblia Deus nos dá o livre arbítrio? Mãe, por que Jesus é branco, de olhos azuis e cabelo castanho claro se o lugar de nascença dele (Jerusalém, pertinho dos judeus de merda [anedota]) só tem gente nariguda, pele parda com cabelo ruim pra cacete? Mãe, por que a igreja ganha tanto dinheiro dos velhos que cheiram a tabacaria?”.


Como a maioria das mães, sempre uma resposta insuficiente para calar uma criança: “Sei lá menino...” ou “Para de encher o saco, menino” e às vezes “Menino, levanta essas calças”. Já as caixas de sucrilhos me diziam algo diferente: “Somente sucrilhos desperta o tigre em você!” e também ”Agora com 0% de gordura”.


Um dia, quando não tinha nada pra fazer, resolvi procurar uma nova fé. Como os livros sobre este assunto estavam longe do meu alcance, recorri à única fonte de informação que alguém da minha idade tinha alcance fácil e rápido, a Internet. Primeiramente, fiz uma pesquisa por cima (wikipedia), apenas para eliminar as religiões que eu achava complicadas demais ou muito caras. As resultantes foram o Budismo, Protestantismo, Espiritismo, Catolicismo (não pesquisei por já ter dúvidas suficientes), Judaísmo ou nenhuma das alternativas (Ateísmo).


Depois de uma pesquisa rápida e dos resultados obtidos, comecei a pesquisar mais profundamente. No Budismo tudo parece ser bem relaxado e cheio de incenso de erva doce. Errado. Um verdadeiro budista vive no mosteiro acordando cedo, de cabeça raspada orando a Buda e com uma dieta especial para leveza do corpo e alma. O único templo budista que existe em São Paulo fica a uns 50 km da minha casa e nem dá pra ir de bicicleta pelo fato de não saber andar em uma. Um budista ortodoxo (o chamado modista), não faz nada do que um budista dedicado faz e simplesmente cultiva bonsai, o que não faz o meu tipo.


Com os comentários de pessoas satisfeitas e não satisfeitas eu teci minha visão do Protestantismo, como a religião do dinheiro fácil. Monte uma igreja protestante e arranje elásticos para as notas de cem que irão cair, era o que eu imaginava. Teoricamente, eu estava errado. Só teoricamente. Nunca gostei de dinheiro como forma de perdão, mesmo porquê, sou um pobre lascado que vive a base de moedas de centavos roubadas do meu pai. Sem contar que era preciso ter algum parentesco com alguém dentro da igreja para se tornar membro dela.


O Espiritismo parece algo realmente confuso, conheço gente que aderiu a esta religião, mas que não visita nenhuma igreja ou não faz nada especial para obter salvação. Até pensei que era uma religião um tanto indiferente, mas eles se assemelhavam em um ponto aos protestantes: Eles não aceitavam qualquer um em sua doutrina, pois era preciso ser indicado por alguém da mesma.


A ultima das religiões listadas por mim era o judaísmo. De cara lembrei que os judeus são conhecidos por sua fé inabalável, costumes mais conservados e pelo amor ao capital. De certa forma era verdade que eles são apaixonados por seu dinheiro o que os deixava com a fama de avarentos, mas sua fé não era mais algo exemplar. Os judeus de hoje não são como os de antigamente. O fato da sexta feira ser santa e por não ser um dia útil de trabalho os faz com que os judeus mais relapsos se tornem os mais fanáticos em questão de segundos. Sem contar que para ser aceito, mesmo com 16 anos, era necessária a circuncisão. O que? Ninguém vai cortar nada aqui! Depois de procurar uma religião, me deparei com a falta dela. O Ateísmo era a opção final. Conhecendo-me bem como conheço, sabia que não conseguiria viver com a idéia de que não há um deus para o qual não possamos recorrer ou culpar por algo errado então, descartei esta idéia também.

Cansei de procurar uma resposta... Resolvi escolher no que acreditar até formar uma nova igreja (quem sabe?), até ouvir alguém dizendo que isso já existia e se chamava agnosticismo. Não gosto muito de rótulos, mas gosto da idéia da livre interpretação divina. Por ter baixa autoconfiança, prefiro acreditar num deus todo poderoso que me guia e que me dá lições valiosas de vida (das quais provavelmente eu não aprendi nada) e que me acolhe com o calor de seu silêncio.

3 comentários:

R. S. Diniz disse...

Há um provérbio escandinavo que diz que duas pessas não podem ter a mesma religião.


Religião é só um aglomerado de pessoas que não perceberam que fé é que nem cu: cada um tem o seu.

ex-amnésico disse...

Pelo que eu entendi, acho que você ia gostar do Tao Te King...

R. S. Diniz disse...

Tao Te King? Do Taoísmo?


Também acho legal, mas mais pela coisa do Tai Chi Chuan e do sexo Kung Fu (aprenda a gozar sem ejacular!) do que pela religião em si: aqueles deuses, aqueles céus todos... eles não me agradam. E eu não fui com a cara do Rei de Jade.


Se for pra seguir uma religião oriental com uma porrada de deuses, só mais o hinduísmo.