quinta-feira, 12 de junho de 2008

O Gênesis Segundo Welker

Era tarde da noite e Ele não havia concluído um bom projeto. Continuava desenhando e fazendo cálculos matemáticos incompreensíveis à luz de seu abajur claro e reluzente. Ele se sentia frustrado e nervoso, talvez por não conseguir se concentrar em seu projeto ou por não saber o que projetar em seu grande espaço vazio. Teria que ser algo grandioso; algo bonito e forte; algo significativo; algo tão lógico quanto sua existência.

Seus fracassos amassados e rasgados eram muitos, fazendo uma montanha branca e torta em sua cesta de lixo. Seus lápis iam encurtando conforme eram apontados excessivamente e suas borrachas se reduziam a farelos a cada rascunho feito de maneira não satisfatória por Ele. Sua cadeira era confortável, mas o que o deixava desconcentrado era a pressão em fazer algo grande para se vangloriar depois. Ele não agüentava mais. Morria de sono e não havia criado nada ainda. Seus rascunhos não passavam de tentativas de glória frustradas. Irado, ele agarra a cesta lotada de fracassos e atira-a no chão escuro, fazendo dezenas de bolinhas de papel de vários tamanhos se espalharem no chão. Reparando a ordem de tamanhos das toscas bolinhas de papel até o grande abajur que as iluminava lhe fez ter um momento de reflexão.

Sua reflexão foi produtiva e com algum tempo, já tinha seu projeto. Oito grandes bolas de uma poeira consistente e uma bola feita inteiramente de água; pontinhos brilhantes em volta, para dar um toque de classe; uma bola grande e quente para manter as outras esferas aquecidas. Era genial, segundo Ele. A construção de algo tão perfeito levou seis dias e, como ninguém é de ferro, ele resolveu descansar no sétimo. Seu repouso não foi bom, pois ele sentia que faltava algo, até perceber que não faltava algo, mas sim alguém. Pensou. Coçou o nariz sujo de poeira e, involuntariamente, espirrou uma secreção tom verde musgo nauseante na mais bela das esferas recém-criadas. Sua repulsa pela criação veio à tona e fez com que ele a abandonasse e voltasse à prancheta de desenho para uma criação melhor.

E assim nossa humilde existência ganhou inicio.




Amém.

Um comentário:

Satanael disse...

caralho, excelente!

puta que pariu, você é genial!

aeiehsaieaspihaeshipse!

acho que vou escrever uma versão dos genesis também, isso me inspirou.